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Trecho de "Retalhos de Vida" - Marli D.H.F


Trecho de "Retalhos de Vida" - Marli D.H.F


"Não conseguia sair do táxi, minhas pernas travaram. Não consigo explicar com palavras o que senti naquele momento. Era como se um maremoto me assolasse por dentro. O taxista, ao ver meu desespero, me ajudou a sair do carro e me amparou até o lugar onde o corpinho de meu amado filho estava estirado e sem vida... Não havia mais em seus olhos o brilho de todos os dias. Ajoelhei-me no chão e gritei. Era impossível que ele não ouvisse aquele grito e se levantasse imediatamente para me pedir a benção, como fazia todos os dias quando eu chegava. Fui retirada do local à força pelos policiais que disseram que eu estava comprometendo o local onde seria feita a perícia... Perícia? Por que perícia? O que estava acontecendo? Ele era meu filho, só queria levá-lo pra casa, dar um banho nele e tirar aquelas roupas sujas de sangue. Eles não tinham o direito de fazer aquilo comigo. Aos gritos de "me dêem meu filho que eu vou dar um banho nele", Miguel e Dona Sebastiana me afastaram do local do crime... Crime? O que estava acontecendo? Quem cometeria um crime contra uma criança? "Felipe, vamos filho, já está ficando tarde, você vai se resfriar sem uma blusa!"

Após o primeiro impacto, veio à revolta. A partir daquele momento, eu, Dalva, nunca mais fui a mesma mulher.

Fiquei sentada ao lado da faixa amarela, observando completamente inerte o trabalho da perícia. Tudo inútil, desde quando neste país se desvenda um crime que envolva uma família pobre? Éramos pobres, morávamos na periferia, isso bastava para saber que quem atirou em meu filho jamais seria pego. Pelo menos não pela polícia.

Enterrei minha alma junto com meu filho naquele dia cinzento e chuvoso e jurei a mim mesma que toda aquela dor não ficaria impune."




















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