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"Pesadelo sem fim"



Estamos duas amigas minhas e eu jogando vinte e um na sala da minha casa.

É uma noite nublada, lá fora está escuro, mas os raios iluminam tudo, quebrando o silêncio com o som de seu trovão. Olho para minha amiga e proponho um desafio:

- Duvido você beijar a Kat! - Digo, sorrindo maliciosamente.

Kat e Tara se entreolham desconfiadas, mas elas deviam me agradecer. Há tempos uma quer agarrar a outra e eu tenho ouvido o ponto de vista de cada uma. Tem sido um tédio, por isso decidi propor isso e acabar com essa enrolação tipo novela mexicana de uma vez por todas.

As duas pareciam estar com dúvidas, até Tara tomar a iniciativa. Pegou Kat pelos braços, puxou-a e as duas começaram a se olhar de outra forma, quase como animais num combate, mas esse seria um combate diferente. Então as luzes se apagaram do nada, não pude ouvir nada além de passos se aproximando de nós.

Não era o leve ruído de passos despreocupados, era como se a pessoa estivesse com raiva, querendo partir o mundo ao meio só com os pés. Alcanço meu celular na mesinha de centro e uso sua luz para tentar clarear um pouco as coisas. Kat e Tara fazem o mesmo. Posso ver que Tara está com as mãos tremendo e o rosto de Kat um pouco suado.

As coisas se acalmam um pouco, apesar da luz continuar apagada. As meninas e eu nos aproximamos instintivamente, tentando nos proteger. O medo em nossas faces é visível, nossos corações aceleram assim como nossas inspiradar e expiradas.

- O que foi aquilo? - Tara pergunta assustada.

- Não faço ideia, mas é melhor saímos daqui - Respondo, apavorada.

Enquanto caminhamos para fora da casa, ouvimos mais um barulho, mas agora com vultos ao nosso redor.

De súbito, a bateria do meu celular acaba. Sinto meu cabelos se arrepiarem. Grito ao sentir alguém respirando atrás de mim.

Seguro a mão de uma das garotas procurando coragem quando outro arrepio sobe pela minha coluna, as luzes oscilam uma vez e um trovão ecoa lá fora anunciando uma tempestade, pressiono os lábios ao sentir dedos gélidos em meus ombros.

- ARGH!!! - Grito, sentindo minha garganta arder.

Os mesmos dedos gélidos agarram meu pescoço.

- Calada! - A voz rouca e arrastada ecoa bem perto do meu ouvido. - Venha comigo e nada acontece com suas amigas.

Engulo em seco. Meus olhos se enchem de lágrimas.

Assinto.

- Feche os olhos! - Ordena, mas eles já estavam pressionados, assim como o meu corpo paralisado de medo.

Um zumbido estridente ecoa pelo meu ouvido, minha garganta seca e minha cabeça parece que vai explodir, o frio domina o ambiente como se estivéssemos em um freezer, um lugar que suga até o calor da minha alma, minhas pernas falham e eu caio no chão, não sei onde estou, com quem ou porque, mas não ouso abrir os olhos.

Suas mãos me agarram com força e me levantam brutamente. Arquejo, morrendo de medo. O desconhecido me empurra até um dos cômodos da minha casa.

- Não saia daqui. - Ele sussurra no meu ouvido, segurando meu rosto. - Suas amigas não continuarão vivas se o fizer, Riley.

Faço o que o desconhecido me pede. Mesmo porque o meu corpo já não me obedece mais à essa altura do campeonato.

A falta de energia elétrica e os trovões só me deixam mais apavorada. E as meninas estão sendo ameaçadas. O que estou dizendo? Eu também estou sendo ameaçada. Quem é este homem sinistro em minha casa? Como entrou nela? E como sabe o meu nome?

Só pode ser algum conhecido...

Com todo o medo que me consome, arrisco olhar em direção da janela, onde ele está parado. Lá fora cai uma chuva intensa.

Um relâmpago clarea o lugar que presumo eu ser a sala. E a claridade evidencia parte da sua face por um breve momento.

Fico muito mais amedrontada com o que vejo ou com quem vejo. Não esperava nunca que pudesse ser alguém que estivesse tão fora do meu alcance.

- Thomas? - Pergunto atônita, sentindo todo o sangue do meu corpo ferver. - Thomas, droga!

O lampejo ilumina a sala de estar e ainda estou debruçada no chão quando o corpo coberto por uma manta negra que vira, tão lento que chega a ser torturante, estou com tanto medo que pode ser mortal, eu não sei se foi pelo que senti mas ele me assusta mais que qualquer assombração.

A luz da sala volta a oscilar quando o corpo se vira totalmente, outro trovão ecoa e consigo ver uma parte da máscara negra por baixo do capuz, sinto outro arrepio e as minhas mãos gelam.

- Quem é Thomas? - Não vejo o movimento dos seus lábios, como se a voz rouca e desumana estivesse na minha mente e mais uma vez estou errada.

É impossível sentir mais medo!

Encolho-me. Desvio o olhar, choro em silêncio. O desgraçado ri de mim. Ri alto.

Suas pernas se movem e saem do cômodo. Ouço o leve ruído da chave girando. Ele me trancou aqui. Maldito!

É o Thomas, mas está diferente... Sombrio eu diria.

Tá bom pode parar com a brincadeira já me assustou!

O que ele fará? É Thomas? Parece ele, no entanto sinto algo obscuro nele...

Está ele surtando?

Ouço os malditos passos no corredor que dá acesso aos quartos. As meninas estão em um deles.

Não acredito que estou vivenciando isso!

Continuo parada em estado de choque no mesmo lugar onde ele me colocou. Mas minha mente está trabalhando ao mesmo tempo. Vou fugir e tentar salvar as meninas assim que puder sair daqui. Sou refém em minha própria casa, que irônico!

Passado uns 20 minutos, ele volta, abre a porta com um estrondo. Estremeço mais uma vez.

Em sua mão ele traz um punhal e coisas estranhas. Se abaixa e desenha um pentagrama...

Meu Deus!

A adrenalina finalmente decidiu agir em mim. Parei de chorar e tentei correr, tenho pernas longas e sou razoavelmente veloz, mas isso não foi suficiente. Thomas agarrou meus pulsos e me jogou no chão impiedosamente. Sinto dor no braço e logo um líquido quente..n

Sangue escorre lentamente do meu braço, na parte onde o punhal muito afiado me cortou. O maldito agarra meu braço e o examina.

- Sua estúpida! Você não deveria sangrar antes do ritual! - Segura meu queixo com força, obrigando-me a olhá-lo.

- Me solta! - Eu grito, tirando suas mãos de mim e tentando me levantar mais uma vez.

Thomas ri alto antes de me jogar de volta no chão. Bato minha lombar contra alguma coisa.

Ouço um estalo alto. Um estalo que veio de mim.

O desgraçado ri mais ainda.

- Isso que dá tentar fugir, sua idiota! Agora você nunca mais vai poder levantar, nem andar... - Ele gargalha alto e as luzes finalmente voltam, me dando um vislumbre da parte do seu rosto que não está coberto pela máscara.

Não consigo controlar os soluços, ele parece estar queimando, fervendo, borbulhando, como se sua pele se recusasse a receber o hospedeiro.

- Thomas! - Surruro, enquanto a dor surreal se espalha pelo meu corpo. - Thomas, por favor, deixe-me ir... - Não consigo fazer nada que não implorar enquanto ele desenha símbolos por todo chão e paredes recitando palavras das quais eu não sei a origem ou o significado.

- Sabe, garota, nem mesmo eu posso negar que a porcaria mais poderosa que você tem a oferecer é amor. - Ele sorri. - Passei longos anos esperando por isso e foi muito gratificante ver... - Ele aponta para o meu peito. - Morrer! E o mundo inteiro se tornar angústia, solidão e rejeição, um corpo preparado, e duas almas... Bom, talvez uma e meia, - Ele gargalha. - preparadas para um momento esperado por milênios. Não importa o que faça, não há nada nem ninguém que possa impedir.

Ele volta a recitar palavras desconexas, mas agora olhando nos meus olhos e a única coisa sensata a fazer é sentir o pânico e o arrependimento quebrar as minhas espinhas.

Lágrimas preenchem meus olhos mais uma vez. Não tem mais o que fazer. Não posso esperar nada além da morte certa. A única coisa inteligente a fazer é acolher esse sentimento fúnebre como um velho amigo e me deixar levar.

A dor faz queimar minhas costas, mas não sinto minhas pernas. O corte de antes pegou numa veia, meu sangue não para de escorrer.

Eu não queria fechar os olhos, não queria mesmo. Mas é puramente biologia, sem sangue, sem forças. Sem forças, sem vigor.

A última lembrança que tenho daquele dia é o sorriso maldoso de Thomas.

Mas, do seguinte, é um quarto de hospital.

Não me lembro como cheguei aqui, e para falar a verdade, não quero. Só preciso saber das meninas e se elas estão bem.

Assim que o médico entra no quarto do hospital, tenho mais uma surpresa... Thomas.

- Pensou que iria escapar de mim, amor? - ele diz rindo. - Você está enganada, nunca fugirá de mim.

As máquinas começam a fazer barulhos freneticamente e eu me esforço para tirar a máscara que cobre o meu rosto.

- Não, não quero ouvir sua voz, mesmo sem querer estragou os meus planos, preciso de você saudável, sua estúpida! - Ele abre um livro com a capa de couro marrom e mais uma vez me sinto nauseada pela enchurrada de palavras

- Thomas. - Um fio de voz sai da minha garganta mas ele nem se move. - Thomas, eu sei que está aí, me escuta. - Tento, mas não adianta: ele parece hipnotizado enquanto lê.

Toco as suas mãos por cima da luva, e desco pelo jaleco procurando um contato com a sua pele borbulhante, e quando encontro meu coração pulsa mais forte, eu não estou me queimando mas posso sentir uma conexão.

- Thomas, me perdoa. - Ele solta o livro e a máscara cai, fazendo com que ele cambaleie para trás, a imagem do hospital treme e eu estou entre a minha sala de estar e o hospital, como se fossem camadas da realidade e eu não sei a qual realmente pertenço.

Acho que estou ficando louca. Não, eu não estava em um hospital, era apenas parte da ilusão em que ele me prendeu. Estou presa em mundos paralelos, e ele continua seu ritual sinistro sem quebrar o contato visual. E diz:

- Hoje você se unirá à mim enfim. Seremos um só, logo o seu sofrimento acabará e viveremos juntos por toda a eternidade. Como era para ter sido desde outros tempos. Eu te espero há milênios.

Fico sem reação. O que posso fazer? Meu corpo não se move da cintura para baixo. Lágrimas escapam e rolam por minha face.

- Não faça isso Thomas, eu lhe imploro.

Ele solta uma gargalhada maligna.

- Não adianta fugir do seu destino.

O ritual está quase completo, as palavras são sussurradas mais rapidamente, as cores se mesclam em minha visão, sinto um odor que faz todas minhas entranhas arderem, meus olhos lacrimejam e, sem perceber, começo a entoar um cântico em outra língua. Meu corpo treme, tamanha a força me invadindo, fazendo-o esquentar, quase derreter. As lágrimas rolam e ele sorri, mas eu ainda consigo dizer uma frase:

-Não, por favor.

Da boca de Thomas sai um líquido pegajoso e verde, a minha se abre contra a minha vontade para receber e é a última coisa que vejo antes de desmaiar.

Acordo ainda pela madrugada, estou deitada na minha cama e as meninas estão dormindo, como se nada tivesse acontecido. A chuva deu uma trégua finalmente, há apenas uma garoa com uma neblina densa em volta da casa.

Levanto em um sobressalto, e para minha surpresa eu sinto minhas pernas.

Sim, Thomas conseguiu prosseguir o ritual. Levanto-me e caminho pelo quarto, paro em frente ao espelho.

Vendo-me agora, percebo que estou com a pela mais lisa, cabelos sedosos e longos, negros como a noite, meus olhos estão verdes, quase brilhantes. É diferente de tudo que já vi. Sim, estou muito bonita, tenho que admitir.

Vou até as meninas e elas dormem profundamente, abraçadas uma a outra na cama ao lado da minha.

Estou diferente não apenas na aparência. Algo mudou em mim. Sinto sede e fome. Caminho sem medo algum até a cozinha e como tudo que está na geladeira. E, por incrível que pareça, ainda sinto a mesma fome e sede, bebo um copo de água e volto para o quarto.

Antes de entrar no quarto, ainda no corredor sinto-me ser vigiada. Paro e observo, mas não tem ninguém. Realmente tive um pesadelo horrível e agora estou imaginando coisas.

Quando chego no batente da porta sinto um cheiro delicioso e inebriante, ouço o pulsar de dois corações...

Algo dentro de mim floresce, eu não sei o que está acontecendo, mas olho à minha volta, procurando indícios de que tudo aquilo fora um sonho, mas encontro um anel no dedo anelar da mão esquerda. Toco-o. Ouço os múrmuros aterrorizantes novamente, minha pele começa a arder e eu corro pela casa em busca de um espelho. Quando o encontro minha garganta fecha, minha pele borbulha, meus olhos não tem mais córnea e os múrmuros que antes ouviam saem agora da minha boca. Não sinto arrepio, mas posso sentir medo. Poder e trevas. Angústia e algo bom no fundo do meu ser, eu não sei em que corpo estou ou se ele me pertence, de frente a esse espelho... Eu sou o Thomas.



⚠ Créditos

Esse conto teve a colaboração dos Escritores:

- Hanna (Horranaferraz) - Gabriela (Zemps) - Natasha (NatashaRangelNery) - Andressa (DressaMoraiis) - Gil Dourado (GilDourado) - Niel (ManuVictor)

Conto 1 (Dia 01/11/16)

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